Quanto mais o tempo passa, mais aprecio este papa, sendo que o único ponto de comparação que tenho é o pontificado de João Paulo II. Por definição não gosto de papas, e este não é excepção.
Ao papado do exoterismo, da fé como oposição ao conhecimento, através da devoção aos diversos fenómenos paranormais intelectualmente estéreis, ainda que ricos do ponto de vista das emoções, como o português "fátima" (a mensagem espremida é zero), e a muitos outros do mesmo género, ou das encíclicas dogmáticas, com a fé como motor da compaixão e outras expressões vazias de conteúdo, sobrepõe-se agora um papado que propõe a fé como via para o conhecimento - ainda que muito balizado nos grandes dogmas, não estivessemos a falar da santa madre igreja. Não foi por acaso que Bento XVI foi a África reiterar a ideia da proibição do preservativo: a igreja católica oferece uma filosofia de vida às pessoas, e é essa filosofia e não outra que tem garantido a vitalidade da instituição. Ele sabe que foi "eleito" para espalhar essa filosofia e não outra, e sabe que no dia em que o vaticano se propuser a oferecer outra filosofia, perde o sentido em menos de uma geração. A sida veio e vai, a igreja há-de perdurar. Quem quiser partilhar a filosofia que a santa sé oferece, terá de viver com o peso da responsabilidade que objectivamente tem, ao viabilizar a sua existência.
Longa introdução para louvar o esforço intelectual da encíclica "Caritas in veritate" anunciada hoje pelo vaticano. Não li as 127 páginas, mas li os preâmbulos e ressalta a ideia de um papa de esquerda, que compreende a globalização de forma muito madura e reclama para o mundo um modelo internacional de governo da globalização que atenda de modo coerente aos princípios da subsidiaridade e da solidariedade com o objectivo "de buscar o bem comum e comprometer-se com o fomento de um desenvolvimento humano integral inspirado nos valores da caridade e da verdade", reflectindo em seguida sobre a crise (que consta ter adiado a divulgação da encíclica), onde se constata o deficit de ética das estruturas económicas em colapso, traçando o caminho da rectidão humana, e do sentido do bem comum como única via para o desenvolvimento.
Poucas serão as instituições que dão um contributo tão profundo ao G-8 como está a dar a igreja de Ratzinger.
João Paulo II e a sua caricatura Diácono dos Remédios, possam perdoar-me o atrevimento, valha-me deus, estarão a dar voltas aonde repousam.
terça-feira, 7 de julho de 2009
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